domingo, 12 de março de 2017

Rimbaud (lambe-lambe)

A amizade refletida em teu olhar
Sendo imperceptível nos sapientes.
Nada exigias para me fazer sorrir
Em uma saudação diária e calorosa.

Um companheiro fanfarrão e ciumento
Tive apenas dois anos para usufruir
De um amor puro, incondicional
E da compreensão de um eterno ouvinte.

Um rapazinho excitado e impossível
Se aventurou na busca de um par.
Percorrendo desenfreado morros e ruas
Desembarcou em uma ilha pra encantar.

E na volta pra casa, a fatalidade.
Sua curta jornada na terra se encerra.
E a minha esperanca repleta de culpa
Buscava por quem já estava liberto.

Meu companheiro agora desbrava
Caminhos que ainda não posso traçar.
A tristeza se desfaz em doces lembranças
De uma vida feliz ao lado teu.

E quem porventura o conheceu
Deve sentir-se ricamente privilegiado
Sua alegria foi para poucos
Um tesouro nesse mundo nefasto.


quinta-feira, 28 de janeiro de 2016

Procrastinação

Em verdade vos digo
Não consigo me libertar
Como uma triste órfã
Ainda espero por um fim.
Que a humanidade entenda
Meus restos fotográficos
Despedaçados...
Nas suas esmolas virtuais.

Poetas malditos não vivem de amor!
Se desmancham em versos de Rimbaud.

Por onde andas não avisto
E adio momentos de tortura
Tua violência à distância
Sobrevivo ao meu próprio caos.
Confessa teus crimes!
Tua submissão sexista
A covardia é para os fracos
Opressão do patriarcado.

Radicais não vivem de amor!

Se empoderam e fodem com Foucault.

domingo, 10 de janeiro de 2016

Espírito Natalino

Entoar sofríveis canções
Sem rima, sem métrica, sem nada
A obra de arte é um rabisco
Já nasce defeituoso e se encerra em si.

E servirei palavras sem mensura
Palavrões não serão censurados.

Me desfaço em goles de vinho
Um privilégio burguês
E se desafino no meio do ensaio
E porque me falta coragem.

Venha caminhar na lua comigo
As estrelas me acenam.

E o espírito se esvai com minha dor
Não permaneço e me nego a sentir
Minha natureza estranha e vândala
Que não sabe mais onde se perder.

E se não te vejo não posso destruir
Todo o amor que mora em mim.

segunda-feira, 19 de outubro de 2015

Sabotagem

Em cada amanhecer, a escuridão.
Meus olhos se abrem ainda sem enxergar
E não há mais nenhum lugar
Que irá me receber.

Em cada porta aberta, o vão.
Meu caminhar mesmo devagar se perde
E nunca existiu um abraço sequer
Para me confortar.

Em cada sentido deturpado, a sabotagem.
Minha mente envenenada repousa
Na criação de um sistema complexo
Criado para me redimir

quarta-feira, 28 de janeiro de 2015

Soneto da maior tristeza

Meu coração não sabe mais
Por quais veredas me deixar levar
Por qual sorriso me encantar
E tudo o que posso sentir.

Meu coração odeia e ama
Simultaneamente
Integra e separa
Em múltiplas combinações.

Ontem ele amou demais
Hoje ele sofre demais
E o amanhã não foi previsto.

Apenas me desfaço
Nas lembranças efêmeras
De uma felicidade dúbia.

domingo, 7 de dezembro de 2014

Tu cumpleaños.

Vieste de uma constelação qualquer
Um fruto do mais puro amor.
Da mais pura vida.
Em abundância se refugia.

A criança cresceu e pequena se faz.
E o mundo a transforma.
Não há mais sonhos.
E uma sombra refuta seu coração.

Vaguei por tantos meses sem resposta.
E no meu dia um aceno faltou.
Mas não me limito.
Tenho uma eternidade pra te esquecer.

Muitos anos ainda vão passar torturando
Seguem notícias longínquas.
E toda a minha mágoa contida.
Um dia se dissipará.

Com minha ausência podes respirar
E uma paz condicional se cria.
Nada mais, nada menos.
Apenas uma forma de te presentear.

terça-feira, 25 de novembro de 2014

Mi cumpleaños

O sol parece que não vai perdoar
São cinco da manhã, nasci.
E preciso muito do seu calor
Me alimente e me deixe dormir.

Essa noite sonhei com minha mãe
E este momento radiante me liberta.
Lembranças de outrora sobrevoam
E na mente repousam como quero.

Mesmo mais perdida do que só
Atravessando infinitas espirais
Circulando vagarosamente
Meus dedos em seus cabelos.

Me sinto entorpecida de ilusão
A cannabis já posso dispensar
Mesmo ainda avistando
Seus pequenos olhos.

E quando me embriago de tristeza
A solidão é o que menos machuca
A decepção é de amargar
Mas, acordo todos os dias.

E mesmo não restando nada
Roubou minha alma, meus poemas.
Levou embora meu coração.
E mais nada para testamentar.

E nessa jornada não somente dor
Se faz translúcida e permanente.
E se não vou ao teu encontro
É porque não deixei de te amar.

Em minhas mãos a reação das horas
Sou uma força de trabalho
Proletariamente sobrevivendo
Sem as mais belas canções burguesas.

Queria viver de meus poemas
E da minha prosa falsificada
Meramente ficcional
Manuscritos sem data, sem rancor.